O Rio de Janeiro é uma cidade consagrada por suas belezas, história e estilo de vida. Isso obviamente não veio de hoje. Seus bairros não pulsam diferente do geral. Cada um com suas particularidades, mas todos fazendo jus a esse nome.
Por isso, hoje, vamos falar da famosa Ipanema. Dona do Arpoador, de um calçadão único e de um legião de fãs que a história não consegue mensurar. Suas ruas carregam histórias que abrangem o mundo até em forma de música como “Garota de Ipanema”.
Ipanema assim como o nosso território em geral era habitada por índios. A tribo era a Kariané. Pode se dizer que moravam bem com essa paisagem e mar. Isso até o final do século XVIII.
No século 19, por sua vez, quem assumiu foi o Conde de Ipanema, depois desse território já ter pertencido a outros. Ele por sua vez fundou a Villa Ipanema e elaborou uma estratégia para conseguir lotear e povoar a região.
Com foco nisso, começou as praças, projetar ruas e as avenidas. Inclusive para conectar com os outros bairros conhecidos hoje como Copacabana e Leblon. O que acabou funcionando e atraindo a população. Ele transformou-se de dono de uma chácara para o responsável pela criação de Ipanema.
Mas o divisor de águas certeiro foi em 1902 quando chegou a primeira linha de bonde no bairro. O que impulsionou sua urbanização e potencializou seu crescimento.
Se você acha que os duelos são apenas norte-americanos. Está completamente enganado. As areias de Ipanema já escreveram essa história no século 20.
O senador gaúcho Pinheiro Machado parece que havia se irritado bastante com o que o jornalista e diretor do jornal Correio da Manhã, Edmundo Bittencourt, estava divulgando a seu respeito em suas páginas.
O político como um bom conservador da época convocou publicamente o jornalista para um duelo em defesa da sua moral depois de tantas ofensas. Edmundo aceitou.
Depois disso se organizou o duelo. Primeiramente, escolheu um lugar distante em Ipanema, mas sabe-se que foi nas areias de Ipanema mais precisamente nos arredores da famosa Avenida Vieira Souto. Em segundo lugar, foram escolhidas as testemunhas.
No dia, foram colocados um de costas para o outro. Depois, foram cumprir a meta de dar 10 passos para então poderem virarem-se um para o outro e poder atirar.
Quem perdeu? Edmundo, infelizmente não se deu bem, levou um tiro que pegou na parte lateral do seu quadril saindo machucado dessa história. Já o senador elevou sua honra e moral, se assim pudermos falar.
Nos anos 60, Ipanema se consagrou com uma das mais queridinhas e se modificou mais ainda. Tornando-se um dos endereços mais nobres e caros por metro quadrado. Principalmente, se formos falar da tão desejada Avenida Vieira Souto.
Mas os anos 60 em questão estrutural foi marcado pela saída das casas para entrar em cena os prédios. Um processo que gerou muita polêmica entre os moradores mais antigos do bairro.
O bar veloso era um dos tantos estabelecimentos classificados como “pé sujos”. Ficava a duas quadras da praia de Ipanema. Mas não tinha tanta classe, na verdade suas mesas ficavam quase na calçada como um bom boteco que se preze.
O cardápio era o tradicional de todo bom carioca. Isto é, descer aquele chop ou cerva bem gelada com aqueles petiscos simples para aliviar o dia sentindo a brisa do mar.
A diferença ficou nos clientes de carteirinha. Nada mais, nada menos que Vinicius de Moraes e Tom Jobim. Cariocas da gema que não gostavam de perder a oportunidade de observar o movimento do bairro e se entregar às paixões à primeira vista pelas mulheres que passavam por ali.
Nesses momentos de prazer vira e mexe viam Helô Pinheiro passar a caminho da praia no auge de seus 17 anos. Os dois ficavam a admirá-la. Até que fizeram uma canção para homenagear a garota que tanto admiravam a beleza consagrando-a como a famosa “Garota de Ipanema”. Só não imaginavam a repercussão que ia ter.
Já disse Vinicius : “ “Para ela fizemos, com todo o respeito e mudo encantamento, o samba que a colocou nas manchetes do mundo inteiro e fez de nossa querida Ipanema uma palavra mágica para os ouvintes estrangeiros. Ela foi e é para nós o paradigma do broto carioca; a moça dourada, misto de flor e sereia, cheia de luz e de graça mas cuja visão é também triste, pois carrega consigo, a caminho do mar, o sentimento da mocidade que passa, da beleza que não é só nossa – é um dom da vida em seu lindo e melancólico fluir e refluir constante.”
É ser carioca já envolve muito, mas ser de Ipanema tem outros pesos. A bossa consagra o bairro e esconde suas histórias por lá.Imagina, sair de casa e pensar nessa histórias presentes por ali. Mas o bairro teve suas representações além da música.
Leila Diniz é uma personagem um tanto quanto polêmica do bairro. Revolucionária conhecida por usar biquíni ao estar grávida na época ditadura. Algo nada nos padrões daquele período. Suas ideias iam muito além.
Leila falava palavrões abertamente. Muito mais do que isso falava sobre sua intimidade, sexo e pregava os amores livres. Algumas coisas que até hoje não estamos a vontade para fazer.
Foi perseguida na ditadura. Além da atriz ter sido demitida pela rede Globo na época que alegou razões morais para não renovar o contrato.
Dona de frases imortais como: “Só quero que o amor seja simples, honesto, sem os tabus e fantasias que as pessoas lhe dão”; “Eu durmo com todo mundo! Todo mundo que quer dormir comigo e todo mundo que eu quero dormir.”. Construiu história mesmo falecendo aos 27 anos.
Podemos dizer que Ipanema realmente respira e inspira as artes. Não importa se muito à frente do seu tempo ou não. Sua contribuição é infinita para o Rio de Janeiro e para o Brasil. Isto é, uma baita responsabilidade ao morar lá.
Mas caminhar por suas ruas e pensar em sua história faz valer a pena qualquer seja o investimento. Sentir a brisa do mar e pensar nas histórias que guarda por seus cantinhos com tanta magia faz tudo se tornar melhor.
Qualquer dia de trabalho fica melhor ao chegar em casa, olhar o mar perto e deixar mais uma história ser escrita no bairro, a sua história. Pode ser nos barzinhos como Vinicius e Tom ou como Leila nas águas do mar. O que não pode é deixar de se imortalizar nesse lugar ou não se render aos seus encantos.